Marcelo Letal

Marcelo Letal – letrista, roqueiro, cantor. 

Uma apresentação por Sandro Lobo

Quem vê Marcelo Letal no palco – cabelos negros sob o chapéu inusitado, sua pele branca invariavelmente mostrando as tatuagens coloridas, que por sua vez contrastam com sua preferência pelas roupas pretas – pode até pensar que se trata de um roqueiro no sentido mais aceito e mais comum do termo. De certa forma, não erra: o cara tem atitude rocker. Só não tem firula. Na adolescência, nos anos 80, curtiu sim Sex Pistols, The Clash e, inevitável, não passou batido pelos Beatles e Rolling Stones.
A mistura que deu sua textura, no entanto, tem muito mais de rock brasilis. Bote aí Camisa de Vênus, Cólera, Replicantes, Garotos Podres, e suavize tudo isso com Raul Seixas, Itamar Assumpção, Luís Melodia. Suavize entre aspas. Em sua primeira incursão musical, o grupo era na verdade formado por outros garotos que curtiam mesmo o punk. A Dose Letal foi sua primeira banda, ainda nos anos 90. Dela, obviamente, herdou o inspirado sobrenome artístico. A lembrança mais marcante foi um quebra-pau no subúrbio ferroviário.
“ A gente tinha uma postura invocada, letras fortes, em geral de protesto. Chegamos a fazer uma impensável apresentação num antigo projeto da prefeitura no bairro de Plataforma. Era uma espécie de festa de largo. Tivemos que sair fugidos para não sermos linchados”, relembra, às gargalhadas. O motivo da muvuca? “Não termos permitido que uma banda de percussão subisse ao palco e termos respondido, mais que à altura, às provocações de uma plateia de rua que queria ouvir axé e teve que engolir rock e muito palavrão”. A banda acabou por volta dos anos 2000.
“Já não usava mais esse nome, pois acreditava que passava uma imagem que não mais correspondia ao que procurava fazer ultimamente, até que coincidiu do Edy Star, em matéria do jornal A Tarde, citar meu nome adicionando o Letal. Como já estava querendo seguir apenas sem nome de banda, acabei adotando de vez. Acho que definiu uma identidade”, diz.
Sem muito saco para participar de outra banda, Marcelo se reunia com amigos para tocar e beber nos finais de semana e sempre executava composições próprias. Um belo dia, resolveu chamar os caras e entrar em estúdio para gravar seis músicas que estavam mais “arrumadas”. Eram eles Heládio Tourinho (músico experiente, que àquela altura já tinha tocado com bandas como a Cheiro do Amor), Humberto Batalha (Mil Milhas), Marcos PM e Gerson Conde (ambos ex Black Birds).
Ali surgia a segunda banda de Marcelo Letal, a Sequestro Relâmpago. Os instrumentos foram gravados em duas ou três horas de um sábado à noite e a voz no domingo à tarde, em apenas uma hora, um amigo se ocupou de fazer a arte gráfica do CD e pronto! Em pouco tempo, algumas músicas estavam sendo executadas nos programas voltados ao público de rock da Metrópole FM, Transamérica, Educadora e em rádios comunitárias - principalmente no descolado programa Tribus, apresentado por Gringo, direto da periferia, em São Caetano.
Daí muita água rolou: teve de Lavagem do Rock (durante a tradicional Lavagem do Bonfim) até “Sessão do Descarrego” - com os caras se apresentando nos fundos de uma igreja evangélica da Boa Viagem. O melhor, no entanto, foi a temporada de um ano na Biriteria Blue, espaço  que, por causa dessa programação, acabou se tornando parte do chamado circuito alternativo. Chegaram a tocar no circuito Barra/Ondina, no trio de Waldir Serrão, o Big Ben, que aliás, segundo Marcelo, deu o maior calote nos caras. “Só no final do percurso pude entender o porquê desse sobrenome, Serrão. Ele simplesmente não pagou aquilo que foi combinado, aliás, ele não pagou nada, mesmo tendo levado uma bolada da Propeg”, conta.
Um tempo depois a Sequestro acabou. Marcelo reencontrou o amigo Bira, percussionista dos bons, que sugeriu fazer algum projeto musical. Veio nova banda: a Viralatas de Luxo, inicialmente uma brincadeira. “Uma forma de passar o tempo em meu estúdio tocando e bebendo cerveja, até que logo estávamos eu cantando e tocando guitarra, Bira na bateria, Banana na percussão, Batalha no baixo, Ivan Pedro na guitarra, reforçada por Tourinho a partir dessa apresentação que acabou virando uma temporada de quase um ano”, relembra.
A Viralatas teve uma trajetória razoável: shows no Pelourinho, no Encontro Regional dos Estudantes de História, temporada no Rio Vermelho, a já tradicional Lavagem da Biriteria (realizada na Lavagem do Bonfim) e participação em todas as edições do projeto Domingos Instrumentais, do músico Fred Menendez (guitarra baiana), ao pôr-do-sol, no Humaitá.
Depois Marcelo parte para um projeto onde tocaria violões de cordas de aço (6 e 12 cordas) e de nylon, recebendo convidados. A música reuniu de novo a turma. “Logo estavam incorporados à apresentação Tourinho (violão e bandolim), Ivan Pedro (violão) e Bira (percussão). Foi assim que começou o meu trabalho solo”, explica.
Como se vê, Letal não é marinheiro de primeira viagem. A ideia agora é ter a liberdade de fazer apresentações com formatos que facilitem a venda de seu show, ora com violões, ora com banda de apoio. A meta é investir na carreira direto e reto.




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